segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Uma breve história do homem que desafiou a ditadura

Por Antonio Siqueira



 Capitão Sérgio Macaco
Há 50 anos, o capitão do Para-Sar, Sérgio Ribeiro Miranda de Carvalho, conhecido como "Sergio Macaco", evitou o que seria a maior tragédia terrorista do mundo conhecido. Na ocasião do encontro com o seu comandante, o brigadeiro Burnier, em 1968, Sérgio Macaco já era um militar de sólida carreira: era capitão-paraquedista com aproximadamente 900 saltos, seis mil horas de voo e quatro medalhas por bravura. Na ocasião, Burnier era chefe de gabinete do ministro da Aeronáutica, Márcio de Souza Mello. Um dos expoentes da extrema-direita brasileira, Burnier chefiara a revolta militar de Aragarças, em 1959, contra o governo de Juscelino Kubitschek, além de criar o Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica, órgão de ligação da Aeronáutica com o Serviço Nacional de Informações (SNI), responsável pela espionagem e repressão no período militar.

O plano de Burnier para acabar com o comunismo no Brasil previa uma série de atentados a serem executados pelo Para-Sar: bombas explodiriam em alvos específicos, como a loja de departamentos Sears, o Citibank e a embaixada americana. Além disso, 40 personalidades opositoras ao regime seriam sequestradas e lançadas de um avião no meio do oceano. A lista de sequestrados tinha nomes como Carlos Lacerda, JK e dom Helder Câmara. O ato final seria a explosão do Gasômetro do Rio de Janeiro — naquela época responsável pelo fornecimento de gás para a cidade e, hoje, desativado — e da represa de Ribeirão das Lajes, que fornecia parte da energia elétrica para a capital fluminense.

A concretização do plano de Burnier representaria um verdadeiro banho de sangue: apenas a explosão do gasômetro, planejada para ocorrer na hora do rush, mataria em torno de 100 mil pessoas. A culpa seria atribuída aos grupos de esquerda, o que legitimaria uma verdadeira “caça às bruxas”, com o apoio da opinião pública, que seria devidamente preparada para apoiar esse endurecimento do regime. Perguntado por Burnier se concordava com o plano, Sérgio Macaco respondeu:

— Não. Não concordo. E enquanto eu estiver vivo isso não acontecerá. (...). Não me calo e darei conhecimento de tais fatos ao ministro.

A recusa de Sérgio Macaco e do Para-Sar, ajudou a salvar centenas de milhares de pessoas. O ano de 1968 foi cheio de turbulências e aventuras – o que resta agora é saber o que cada um de nós carrega dessa geração, que ao mesmo tempo em que tinha muita vontade de lutar pelos seus ideais e comemorar suas conquistas, viveu sob grande repressão e tortura. Não há dúvidas de que o ano de 1968 continuará para sempre no imaginário o povo brasileiro.