sexta-feira, 23 de maio de 2014

A Rússia não precisa da Europa, tampouco dos EUA



Por Antonio Siqueira - do Rio de Janeiro


Parceria




















     A China é o parceiro comercial mais importante da Rússia: cerca de dois terços das importações chinesas do país são petróleo ou gás natural. Um novo acordo bilionário de exportação de petróleo e gás, selado nesta quarta-feira entre os dois países, reforça a importância desta relação. É um acordo que vinha sendo forjado há muito tempo, com os chineses hesitantes sobre os custos. Mas os valores contam apenas parte da história. O acordo acontece em um momento em que as tensões entre a Rússia e o Ocidente aumentaram, principalmente por causa da crise na Ucrânia.

     E o problema não é só a Ucrânia: há diferenças fundamentais entre os dois lados a respeito da Síria e sobre a direção para a qual o presidente Vladimir Putin está conduzindo o país. De fato, em alguns momentos Putin parece estar posicionando a Rússia como um polo alternativo em relação ao que ele parece considerar valores decadentes do Ocidente. Portanto, o acordo entre a estatal russa Gazprom e a chinesa Corporação Nacional de Petróleo pode simbolizar um momento importante de transição, quando, tanto em termos econômicos quanto geopolíticos, o olhar da Rússia começa a se volTar mais para o Oriente do que para o Ocidente.

     Mas a “guinada oriental” da Rússia também tem seus problemas. Mesmo que o país se considere uma potência “eurasiática” em termos geográficos, Pequim é claramente o ator em ascensão. O papel da Rússia é de um importante fornecedor de energia – o país também vende quantidades significativas de petróleo e gás para o Japão e a Coreia do Sul -, o que lhe permite uma participação importante na região. O acordo, entre a estatal russa Gazprom e a Corporação Nacional de Petróleo da China (CNPC, na sigla em inglês), foi negociado durante dez anos.

     A Rússia vem tentando encontrar mercados alternativos para o seu gás natural, diante da possibilidade de sanções europeias por causa da crise na Ucrânia. O valor oficial do acordo não foi divulgado, mas acredita-se que seja de mais de US$ 400 bilhões (R$ 884 bilhões). O novo contrato deve garantir o envio de cerca de 38 bilhões de metros cúbicos de gás por ano para a China, a partir de 2018.

     Mas isso também pode ser encarado de maneira diferente: uma tendência que enfatiza o papel crucial das exportações energéticas nas finanças russas – uma dependência que pode facilmente se tornar tanto uma fraqueza quando uma força.

     De fato, o tempo que foi necessário para que Moscou chegasse a esse acordo com Pequim pode mostrar com quem está o real poder de negociação. Em nível estratégico, a Rússia parece estar reforçando seus laços militares com Pequim. Exercícios navais conjuntos estão sendo realizados neste mês. Mas dada a miríade de tensões na região causadas pela escalada marítima da China e sua crescente disputa em questões regionais, uma aliança mais próxima com Pequim pode ser pouco interessante, já que pode dificultar o avanço nas relações com outros atores regionais, como o Japão.

     O momento em que esse acordo foi feito reforça inevitavelmente seu significado geopolítico, mas ainda é muito cedo para delinear as verdadeiras consequências da crise ucraniana. Para começar, não sabemos exatamente como ela vai terminar. Moscou pode ter desistido de uma intervenção militar em grande escala, mas é difícil enxergar qualquer mudança na visão de longo prazo de Putin para uma Ucrânia enfraquecida como um Estado-tampão entre a Rússia e o Ocidente.

     Diferentes afirmações estão sendo feitas no momento: que a era pós-Guerra Fria chegou ao fim; que os países europeus certamente tentarão reduzir significativamente a dependência da energia; que a missão principal da Otan foi reafirmada e que a aliança militar ocidental teve sua vida útil estendida. Uma mudança de foco da política russa em direção ao Oriente pode ser parte disso.

     Todas essas afirmações podem ser verdadeiras, mas ainda é cedo para dizer. A Rússia continua sendo, em parte, uma potência europeia, ansiosa por salvaguardar os direitos das minorias em uma variedade de países na região que o país considerava seu “exterior próximo” ou seu quintal. Isso, também, não deverá mudar. A Europa precisa sim, por demais, da Rússia. E deveriam repensar atitudes unilaterais em detrimento a Washington e pôr as barbas de molho.


fonte: bbcworld


domingo, 18 de maio de 2014

Lula quis fazer uma borboleta e produziu um morcego

Por Antonio Siqueira - do Rio de Janeiro



                                   Let it be ... and fuck


















Todos os dias me vem à lembrança a figura do Lula oferecendo o Brasil para sediar a Copa de 2014 com aquele ar de Moisés malandro levando o povo à terra prometida. Entre os anos de 2003 e 2007, o governo brasileiro suou o topete para alcançar o espetacular objetivo. Antes da Copa da África do Sul, a propósito do “Let it be! (Pois que seja!)” com que o bispo Desmond Tutu respondeu aos jornalistas que lhe perguntaram se os estádios sul-africanos não se transformariam em elefantes brancos: “A FIFA impõe aos países eleitos para acolher seu empreendimento exigências que só se cumprem despejando bilhões de dólares nos seus cofres, nas betoneiras das construtoras e nos altos fornos das siderúrgicas. Se fosse bom negócio, não faltariam empreendedores interessados em bancar a festa porque sobra no mundo dinheiro com tesão para o crescei e multiplicai-vos." Brilhante!

Os delírios de grandeza e a notória imprudência do líder máximo do petismo nacional mobilizaram a opinião pública que aceitou a Copa como um dos "símbolos" do Brasil Potência Emergente. A maior parte do povo brasileiro, do mesmo modo como espera o último dia de qualquer prazo para fazer o que deve, esperou o último ano anterior ao evento para perceber o descompasso entre o oneroso Brasil da FIFA, para inglês ver, e o carente Brasil dos brasileiros. E aí, alguns pularam, irresponsavelmente, do oito para os oitocentos: “Não vai ter Copa!”. Como não vai ter Copa? Vai ter, sim, e não serão alguns milhares de meliantes presunçosos que vão impedir a realização do evento. A estas alturas, com o pouco de vergonha que nos reste na cara, faremos a Copa.



Quem pariu a Copa que a embale



Lula quis fazer uma borboleta e produziu um morcego. Os espaços que nestes dias a mídia do resto do mundo dedica ao Brasil, em vez de exibir as maravilhas nacionais como sonhava o Lula, estão tomados por severas admoestações aos viajantes sobre os riscos de vir ao nosso país. Nosso cotidiano, descobrem, é assustador. A potência emergente foi tomada de assalto pelo crime organizado, tanto nos últimos andares do poder, no grande mundo, quanto no submundo. É só ligar a TV no canal certo e assistir aos noticiários do horário noturno para nos depararmos com cenas que ora lembram ocorrências de países em guerra, ora nos nivelam com as mais atrasadas republiquetas da África Subsaariana.

Se Lula, se Dilma, se o petismo dominante pretenderam transformar a Copa numa excelente oportunidade para o marketing pessoal, político e – até mesmo – nacional, seus burros empacaram dentro d’água. Foi mal, para dizer como a gurizada destes tempos. A atualidade brasileira, a violência e a insegurança de nossas ruas fazem lembrar o que Eça de Queirós escreveu numa crônica de 1871 quando se falava, em Lisboa, sobre os turistas que viriam à terrinha com a construção de uma ferrovia ligando Portugal à Espanha. Escreveu então o mestre lusitano: “A companhia dos caminhos de ferro, com intenções amáveis e civilizadoras, nos coloca em embaraços terríveis: nós não estamos em condições de receber visitas”.

Não estamos, mesmo. Mas agora, quem pariu a Copa que a embale. Que apresente e justifique ao mundo, aos nossos visitantes, o Brasil real, a insegurança das nossas ruas, a violência do cotidiano nacional, nossa incapacidade de cumprir prazos, a limitação monoglota de nossos aeroportos, hotéis, restaurantes e táxis e as muitas tentativas de passar-lhes a perna a que estarão sujeitos.
É o lamentável Brasil de 2014.





E fazer o quê? Ah sim: UMA REVOLUÇÃO CULTURAL NOW!!!



quarta-feira, 7 de maio de 2014

Filme Queimado


Por Antonio Siqueira  - do Rio de Janeiro





@arte_web


















   


     A Guerra dos Trinta Anos terminou, na Europa, em 1648, com o Tratado de Westfália. Entre os entendimentos feitos pelas potências antes em choque, estava o da proteção à figura dos embaixadores. A partir daquele ano e supostamente até a eternidade, quando dois ou mais estados entrassem em guerra, seus embaixadores no país adversário não poderiam ser presos, punidos ou sofrer qualquer coação. Passou a obrigação dos governos onde estavam   acreditados devolve-los sãos e salvos aos países de origem.

     Vieram novas conflagrações, na Europa e no resto do mundo, e o compromisso foi respeitado. Mesmo Hitler garantiu a devolução a Londres e a Paris, depois a Washington e até ao Rio de Janeiro, dos embaixadores dos países em guerra com a Alemanha. Mesmo no caso de guerras não declaradas formalmente, ou de revoluções internas, seus líderes e responsáveis preservavam os representantes de outros países, ainda que implicados nos entreveros locais. Preveniam-se todos, porque o que acontece de um lado pode acontecer do outro.

     Isso até setembro de 1969, quando o Brasil, não propriamente deu lições ao mundo, mas um péssimo e execrável exemplo. Assistimos adversários do regime militar sequestrarem os embaixadores dos Estados Unidos, da Suíça e da Alemanha Ocidental, além de um cônsul do Japão.Quaisquer que fossem as motivações dos que lutavam contra a ditadura, foi um horror. Não havia no mundo know-how para sequestros de diplomatas. O governo americano impôs que o governo brasileiro, então uma abominável junta militar, cumprisse todas as exigências dos sequestradores, inclusive as de mandar 15 prisioneiros políticos para o México. Depois, nos sequestros seguintes, outros para a Argélia e o Chile.

     A moda pegou lá fora. Em Montevidéu, tupamaros uruguaios apoderaram-se de um diplomata brasileiro. Em Lima, o Sendero Luminoso prendeu treze embaixadores estrangeiros de uma só vez. E foi assim por diante, a ponto de a diplomacia dos Estados Unidos estabelecer regras rígidas que valem até hoje: não negociar com terroristas. Quem quiser ser diplomata que seja, mas sabendo que seu governo não tomará qualquer iniciativa negociada para libertá-lo, à exceção de invasões armadas de comandos nos locais do cativeiro. Mesmo assim, com as exceções de sempre, mais as cautelas ligadas à segurança de embaixadores e de altas autoridades em visita a outros países, tinha-se a impressão da volta gradativa ao civilizado espírito de Westfália.

     Corremos o risco de o Brasil ministrar novos "bons exemplos" ao mundo. Às vésperas da copa do mundo ficamos sabendo da preparação de fartos contingentes da Polícia Federal e demais entidades nacionais de segurança, especializando-se em evitar sequestros de diplomatas e até de chefes de estado e de governo estrangeiros dispostos a vir assistir as partidas de seus selecionados. Detalhado esquema de proteção aos ilustres visitantes está sendo elaborado, envolvendo aeroportos, hotéis, trajetos e estádios para onde se dirigirão. A um custo muito alto, previne-se o aparato brasileiro de segurança, claro que com o auxílio de serviços afins de países estrangeiros, para evitar o vexame de sequestros. As atenções voltam-se para os black-blocs e grupos ligados às campanhas contra a realização da copa. Pelo jeito, estão de olho também nos líderes do tráfico de drogas, na verdade os chefes destes desocupados... depredadores e assassinos. No mais, o governador do Estado do Rio de Janeiro, bandido colérico de colarinho branco e sob o manto de seu terno armani engomado pela língua do capeta, vê o seu "acordo" com o narcotráfico ir por água abaixo, por que este não soube controlar a ganancia de seus amigos milicianos, que já agiam até em comunidades pacificadas. Na verdade, Sergio Cabral tem uma dívida imensa com as milícias cariocas. Sem elas, talvez não se elegesse de maneira tão ampla.


     Só admitir-se essas providências, convenhamos, é uma vergonha. Se alguma tentativa de sequestro acontecer, o país com o filme já estorricado de priscas eras, assistiremos ao vivo in loco, a imagem do Brasil desfazendo-se em mil pedaços pelo planeta inteiro. Graças a uma minoria de cancros sociais irresponsáveis que deveriam estar enjaulados.



*Faltam 35 dias para a Copa do Mundo no Brasil; Save-se quem puder!