quarta-feira, 7 de maio de 2014

Filme Queimado


Por Antonio Siqueira  - do Rio de Janeiro





@arte_web


















   


     A Guerra dos Trinta Anos terminou, na Europa, em 1648, com o Tratado de Westfália. Entre os entendimentos feitos pelas potências antes em choque, estava o da proteção à figura dos embaixadores. A partir daquele ano e supostamente até a eternidade, quando dois ou mais estados entrassem em guerra, seus embaixadores no país adversário não poderiam ser presos, punidos ou sofrer qualquer coação. Passou a obrigação dos governos onde estavam   acreditados devolve-los sãos e salvos aos países de origem.

     Vieram novas conflagrações, na Europa e no resto do mundo, e o compromisso foi respeitado. Mesmo Hitler garantiu a devolução a Londres e a Paris, depois a Washington e até ao Rio de Janeiro, dos embaixadores dos países em guerra com a Alemanha. Mesmo no caso de guerras não declaradas formalmente, ou de revoluções internas, seus líderes e responsáveis preservavam os representantes de outros países, ainda que implicados nos entreveros locais. Preveniam-se todos, porque o que acontece de um lado pode acontecer do outro.

     Isso até setembro de 1969, quando o Brasil, não propriamente deu lições ao mundo, mas um péssimo e execrável exemplo. Assistimos adversários do regime militar sequestrarem os embaixadores dos Estados Unidos, da Suíça e da Alemanha Ocidental, além de um cônsul do Japão.Quaisquer que fossem as motivações dos que lutavam contra a ditadura, foi um horror. Não havia no mundo know-how para sequestros de diplomatas. O governo americano impôs que o governo brasileiro, então uma abominável junta militar, cumprisse todas as exigências dos sequestradores, inclusive as de mandar 15 prisioneiros políticos para o México. Depois, nos sequestros seguintes, outros para a Argélia e o Chile.

     A moda pegou lá fora. Em Montevidéu, tupamaros uruguaios apoderaram-se de um diplomata brasileiro. Em Lima, o Sendero Luminoso prendeu treze embaixadores estrangeiros de uma só vez. E foi assim por diante, a ponto de a diplomacia dos Estados Unidos estabelecer regras rígidas que valem até hoje: não negociar com terroristas. Quem quiser ser diplomata que seja, mas sabendo que seu governo não tomará qualquer iniciativa negociada para libertá-lo, à exceção de invasões armadas de comandos nos locais do cativeiro. Mesmo assim, com as exceções de sempre, mais as cautelas ligadas à segurança de embaixadores e de altas autoridades em visita a outros países, tinha-se a impressão da volta gradativa ao civilizado espírito de Westfália.

     Corremos o risco de o Brasil ministrar novos "bons exemplos" ao mundo. Às vésperas da copa do mundo ficamos sabendo da preparação de fartos contingentes da Polícia Federal e demais entidades nacionais de segurança, especializando-se em evitar sequestros de diplomatas e até de chefes de estado e de governo estrangeiros dispostos a vir assistir as partidas de seus selecionados. Detalhado esquema de proteção aos ilustres visitantes está sendo elaborado, envolvendo aeroportos, hotéis, trajetos e estádios para onde se dirigirão. A um custo muito alto, previne-se o aparato brasileiro de segurança, claro que com o auxílio de serviços afins de países estrangeiros, para evitar o vexame de sequestros. As atenções voltam-se para os black-blocs e grupos ligados às campanhas contra a realização da copa. Pelo jeito, estão de olho também nos líderes do tráfico de drogas, na verdade os chefes destes desocupados... depredadores e assassinos. No mais, o governador do Estado do Rio de Janeiro, bandido colérico de colarinho branco e sob o manto de seu terno armani engomado pela língua do capeta, vê o seu "acordo" com o narcotráfico ir por água abaixo, por que este não soube controlar a ganancia de seus amigos milicianos, que já agiam até em comunidades pacificadas. Na verdade, Sergio Cabral tem uma dívida imensa com as milícias cariocas. Sem elas, talvez não se elegesse de maneira tão ampla.


     Só admitir-se essas providências, convenhamos, é uma vergonha. Se alguma tentativa de sequestro acontecer, o país com o filme já estorricado de priscas eras, assistiremos ao vivo in loco, a imagem do Brasil desfazendo-se em mil pedaços pelo planeta inteiro. Graças a uma minoria de cancros sociais irresponsáveis que deveriam estar enjaulados.



*Faltam 35 dias para a Copa do Mundo no Brasil; Save-se quem puder!


4 comentários:

  1. Muito bem salientado e comparado, fora o que só os cariocas "mortos-vivos" não sabem ou fingem não saber, do envolvimento tosco e hediondo de Sergio Cabral com as milícias da cidade e do Estado. Vai dar merda!
    Pelo que li ontem, o mundial ocorrerá em pleno período das convenções partidárias, que definirão oficialmente as candidaturas e as alianças. E Parece que o governo aposta que, se Neymar e companhia ganharem o hexacampeonato, uma onda de otimismo tomará conta do país. Se perderem, contudo, um tsunami de problemas represados poderá vir à tona. Os dois cenários, têm capacidade para influenciar o humor das urnas. E este filme já virou pasta calcinada há tempos, meu caro.

    ResponderExcluir
  2. No que diz respeito ao povo, é criminoso. Mesmo que o povo não saiba. O povo é inocente.

    Mara Leita

    ResponderExcluir
  3. Respostas
    1. Já está fedendo, Drº Aristóbulo. Tenho um relato impressionante de fonte fidedigna sobre esta maracutaia hedionda acerca da segurança pública fluminense, principalmente na capital. Teremos problemas sérios demais e já temo pelos turistas e viajantes que estão na cidade.

      Excluir