O mundo é muito mais complicado
do que pensamos
Por Antonio Siqueira
Do Rio de Janeiro
Durante os séculos XX e XXI não houve sequer um dia sem guerras. Ao constatar isso, depois de meses lendo e relendo livros, artigos, depoimentos e relatórios de diversos autores e pesquisadores chega ser assustador, não? Do ponto de vista técnico, diversos setores da comunidade internacional, trabalham em estatísticas palpáveis, obviamente. Existem no planeta, nesse momento em que o prezado leitor sorve seu café matinal, 15 guerras declaradas e 125 conflitos armados, segundo a UNESCO e o Instituto Heidelberg para o Estudo de Conflitos Violentos. Na categoria ‘conflitos’ entram desde disputas com violência latente entre países que dividem fronteiras até àqueles nas quais a matança é comum.
Segundo Ekaterina Stepanova, autora de "Terrorismo em conflitos assimétricos", um conflito se eleva à categoria de guerra se há mais de mil mortes de combatentes em um ano. Civis atingidos apenas de um lado não entram na contagem. Mas sabemos que a guerra não é um privilégio de exércitos e governos tiranos. Morre-se um pouco a cada dia. Todos nós morremos um pouco, quando as Torres Gêmeas vieram abaixo, e todos nós morremos quase diariamente com os que tombam e tombaram, na Palestina, no Iraque, no Afeganistão, na Costa do Marfim, no Realengo, em Eldorado dos Carajás, na Candelária e nas favelas brasileiras.
O que dizer dos combates em comunidades dominadas pelo poder paralelo do narcotráfico em todo o complexo urbano do Rio de Janeiro, por exemplo?
No Brasil assistimos a um verdadeiro genocídio moral e social, perenizado pela incompetência e incapacidade institucional, agravado pelo monstro corrupto que criamos, pela ganância empresarial e pelo desprezo educacional que visa uma política sócio-cultural segregacionista e excludente. O Governo brasileiro investe enormemente no combate ao tráfico de drogas e em segurança publica em geral. A experiência demonstra que a repressão não resolve o problema, que é de outra natureza. Os ingleses, em nome da liberdade de mercado, moveram uma guerra contra a China, a fim de disseminar o consumo do ópio, e, buscando o lucro, transformaram a droga em commodity, como outra qualquer. O tráfico de cocaína serviu para que os Estados Unidos financiassem os contra-revolucionários da Nicarágua, conforme o grande escândalo conhecido como Irangate. A recente globalização da economia mundial – somada às frustrações – intensificou o tráfico da cocaína, da heroína, do crack e da maconha. Ninguém é inocente, porém, o que mais destroça os nervos é o numero de crianças que morrem nessas batalhas – e não só pelas balas perdidas. Morrem pouco a pouco. Perdem pedaços de suas vidas, como se perdessem dedos, mãos ou braços. As escolas não funcionam como deviam e em certas favelas, alunos morrem de disenteria, de doenças respiratórias, de infecções vulgares - em índices que se comparam às mais atrasadas aldeias africanas. Ano passado, no Morro do Alemão foram perdidos cinco meses de aulas durante a invasão da polícia. O maior prejuízo é a neurose de guerra que acomete os adultos e, principalmente, todas as crianças, em maior ou menor grau.
É claro e evidente que medidas preventivas nos setores de segurança pública, devem ser tomadas; porém relegar a educação a um plano inferior de investimentos seria uma grande burrice, se não vivêssemos numa sociedade mal intencionada e quase que totalmente voltada às minorias de vampiros dominantes. Isso gera o fenômeno absurdamente agressivo do ISOLAMENTO. Acabamos mergulhados na mediocridade, não obstante, numa guerra sem trégua contra nós mesmos. Tornamo-nos promíscuos demais, absurdos demais e patéticos demais. Escravos de uma mídia maníaca e teatralizada. A internet que deveria ser uma preciosa ferramenta de informação transformou-se numa grande vitrine de futilidades e inconveniências. Pessoas se abandonaram; exilaram-se no seu próprio ostracismo ideológico... Não há mais tolerância e a dádiva das paixões sucumbiu ao materialismo insano. E a pobreza, a miséria? Onde ficam?
Combater a fome é nobre, sim. Alimentar a quem tem fome é ato da maior grandeza que se pode imaginar. Só que a idéia de Betinho não era para servir a interesses político-eleitoreiros. Só quem olhou nos olhos de Herbert de Souza, pôde vislumbrar o que é ter um encontro com o bem, com o melhor do ser humano. Só que o Betinho sempre inseriu em seus discursos ou manifestações as palavras: Educação e Capacitação Profissional. Sempre se referindo não só ao povo brasileiro, mas ao mundo em geral. O pior dos desastres ecológicos é a miséria humana. É através deste portal escancarado que as maiores guerras, conflitos e genocídios se estabelecem. O mundo não precisava ser um paraíso. Esse conceito não é utópico, é fabulesco. Se o mundo em que vivemos fosse justo o bastante para que todos pudessem prover seu sustento e, conseqüentemente, um pouco de paz, viver seria bem mais suportável.
Antonio Siqueira é articulista, musico, critico de arte e esperançoso.
do que pensamos
Por Antonio Siqueira
Do Rio de Janeiro
Durante os séculos XX e XXI não houve sequer um dia sem guerras. Ao constatar isso, depois de meses lendo e relendo livros, artigos, depoimentos e relatórios de diversos autores e pesquisadores chega ser assustador, não? Do ponto de vista técnico, diversos setores da comunidade internacional, trabalham em estatísticas palpáveis, obviamente. Existem no planeta, nesse momento em que o prezado leitor sorve seu café matinal, 15 guerras declaradas e 125 conflitos armados, segundo a UNESCO e o Instituto Heidelberg para o Estudo de Conflitos Violentos. Na categoria ‘conflitos’ entram desde disputas com violência latente entre países que dividem fronteiras até àqueles nas quais a matança é comum.
Segundo Ekaterina Stepanova, autora de "Terrorismo em conflitos assimétricos", um conflito se eleva à categoria de guerra se há mais de mil mortes de combatentes em um ano. Civis atingidos apenas de um lado não entram na contagem. Mas sabemos que a guerra não é um privilégio de exércitos e governos tiranos. Morre-se um pouco a cada dia. Todos nós morremos um pouco, quando as Torres Gêmeas vieram abaixo, e todos nós morremos quase diariamente com os que tombam e tombaram, na Palestina, no Iraque, no Afeganistão, na Costa do Marfim, no Realengo, em Eldorado dos Carajás, na Candelária e nas favelas brasileiras.
O que dizer dos combates em comunidades dominadas pelo poder paralelo do narcotráfico em todo o complexo urbano do Rio de Janeiro, por exemplo?
No Brasil assistimos a um verdadeiro genocídio moral e social, perenizado pela incompetência e incapacidade institucional, agravado pelo monstro corrupto que criamos, pela ganância empresarial e pelo desprezo educacional que visa uma política sócio-cultural segregacionista e excludente. O Governo brasileiro investe enormemente no combate ao tráfico de drogas e em segurança publica em geral. A experiência demonstra que a repressão não resolve o problema, que é de outra natureza. Os ingleses, em nome da liberdade de mercado, moveram uma guerra contra a China, a fim de disseminar o consumo do ópio, e, buscando o lucro, transformaram a droga em commodity, como outra qualquer. O tráfico de cocaína serviu para que os Estados Unidos financiassem os contra-revolucionários da Nicarágua, conforme o grande escândalo conhecido como Irangate. A recente globalização da economia mundial – somada às frustrações – intensificou o tráfico da cocaína, da heroína, do crack e da maconha. Ninguém é inocente, porém, o que mais destroça os nervos é o numero de crianças que morrem nessas batalhas – e não só pelas balas perdidas. Morrem pouco a pouco. Perdem pedaços de suas vidas, como se perdessem dedos, mãos ou braços. As escolas não funcionam como deviam e em certas favelas, alunos morrem de disenteria, de doenças respiratórias, de infecções vulgares - em índices que se comparam às mais atrasadas aldeias africanas. Ano passado, no Morro do Alemão foram perdidos cinco meses de aulas durante a invasão da polícia. O maior prejuízo é a neurose de guerra que acomete os adultos e, principalmente, todas as crianças, em maior ou menor grau.
É claro e evidente que medidas preventivas nos setores de segurança pública, devem ser tomadas; porém relegar a educação a um plano inferior de investimentos seria uma grande burrice, se não vivêssemos numa sociedade mal intencionada e quase que totalmente voltada às minorias de vampiros dominantes. Isso gera o fenômeno absurdamente agressivo do ISOLAMENTO. Acabamos mergulhados na mediocridade, não obstante, numa guerra sem trégua contra nós mesmos. Tornamo-nos promíscuos demais, absurdos demais e patéticos demais. Escravos de uma mídia maníaca e teatralizada. A internet que deveria ser uma preciosa ferramenta de informação transformou-se numa grande vitrine de futilidades e inconveniências. Pessoas se abandonaram; exilaram-se no seu próprio ostracismo ideológico... Não há mais tolerância e a dádiva das paixões sucumbiu ao materialismo insano. E a pobreza, a miséria? Onde ficam?
Combater a fome é nobre, sim. Alimentar a quem tem fome é ato da maior grandeza que se pode imaginar. Só que a idéia de Betinho não era para servir a interesses político-eleitoreiros. Só quem olhou nos olhos de Herbert de Souza, pôde vislumbrar o que é ter um encontro com o bem, com o melhor do ser humano. Só que o Betinho sempre inseriu em seus discursos ou manifestações as palavras: Educação e Capacitação Profissional. Sempre se referindo não só ao povo brasileiro, mas ao mundo em geral. O pior dos desastres ecológicos é a miséria humana. É através deste portal escancarado que as maiores guerras, conflitos e genocídios se estabelecem. O mundo não precisava ser um paraíso. Esse conceito não é utópico, é fabulesco. Se o mundo em que vivemos fosse justo o bastante para que todos pudessem prover seu sustento e, conseqüentemente, um pouco de paz, viver seria bem mais suportável.
Antonio Siqueira é articulista, musico, critico de arte e esperançoso.