terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O diabo é o campeão de vendas

Deus no banco dos réus
Por Antonio Siqueira






   















     Uma mulher entrou na Justiça contra a Igreja Universal do Reino de Deus e conseguiu receber de volta seus dízimos. De acordo com uma publicação do jornal “Extra”, a mulher recebeu uma grande quantia de dinheiro após realizar um serviço e foi induzida pelo pastor a reverter o montante para a instituição religiosa. Pouco depois o homem fugiu da igreja, resultando em um processo de depressão na fiel, que ficou sem emprego e na miséria.

    O processo, acompanhado pela 5ª Turma Cívil do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) confirmou a sentença, determinada pela 9ª Vara Cível de Brasília. Nela, a Igreja Universal do Reino de Deus deverá devolver os R$ 74.341,40 doados à antiga freqüentadora, além de acrescer juros de mora de 1% ao mês.

     A doação foi realizada a partir de dois cheques compensados em dezembro de 2003 e janeiro de 2004. Entretanto, a mulher decidiu acionar a Justiça somente em 2010, quando sua situação financeira já estava seriamente prejudicada. Apesar de ter recorrido, a Igreja Universal do Reino de Deus não conseguiu cancelar a decisão. A igreja ainda chegou a afirmar que a mulher era uma empresária e que tinha rendimentos para poder se sustentar caso doasse o montante, na tentativa de se defender.

     E 1998, sorrateiramente e disfarçado de “fiel”, penetrei em um templo de absurdos desta igreja. Gravei, presenciei fatos perturbadores e entrevistei alguns obreiros e freqüentadores. Vi de tudo, até doações de animais de subsistência como cabras, vacas e galinhas, relógios, jóias como alianças de casamento, cheques preenchidos e assinados no ato e dinheiro em todos os valores possíveis em espécimes. Os pastores aliciavam suas vítimas em um ritual macabro de coação e extorsão, sob ameaça do produto mais consumido em quase todos os segmentos religiosos: O diabo. Sim, o diabo, do latim diabolus, por sua vez do grego diábolos, "caluniador", ou "acusador", também conhecido como, Satã, Asmodeu, Azazel, Belzebu, Tinhoso, 'Coisa Ruim', Cramulhão; Na teologia católica, especialmente Agostiniana, o Diabo é a representação de tudo o que Deus não representa: perversidade, apatia, tentação, luxúria, morte, destruição, com Deus representando a Luz que existe, e o demônio, as trevas, ou seja, a ausência da Luz. Referências Bíblicas: Isaías 14, Ezequiel 28 e Apocalipse 12. Este “senhor” é o maior produto de marketing do cristianismo, seja ele romano, luterano, anglicano... O diabo vende... E como vende!

    _Se você não pagar, o diabo te devora! 
    _Então Deus também está no "banco dos réus" e só lhe protege do demônio se você pagar um dízimo e, quanto maior este o for,  melhor a proteção? O que é Deus? Uma espécie de "miliciano das galáxias"?

      O dízimo nas religiões abraâmicas foi instituído na Lei de Moisés, estipulado para manter os sacerdotes e a tribo de Levi, que mantinha o Tabernáculo e depois o Templo, já que eles não poderiam possuir herdades e territórios como as outras tribos, não para livrar ninguém do diabo ou das maldições como doença e miséria que a eles são associadas. Historicamente eram pagos na forma de bens, e encontra suas origens no Sacerdócio Levítico judaico (Lv 27, 30-34). Por ser Cristo sacerdote segundo a Ordem de Melquisedec, ab-rogou o sacerdócio levítico com todas as suas as leis, dízimos e costumes, conforme narra São Paulo na Carta endereçada aos Hebreus (Hebr 7, 1 - 28). Citando consecutivamente a questão do dízimo nos versículos precedentes, São Paulo arremata: "Com efeito, mudado que seja o sacerdócio, é necessário que se mude também a lei" (Hebr 7, 12). E ainda: "O mandamento precedente é, na verdade, arrogado pela sua fraqueza e inutilidade" (Hebr 7, 18). Continuam deturpando as escrituras, essas que já saíram das cavernas do Mar Morto, sabotadas pelos mesmos fariseus que destruíram Jesus de Nazareth.

      Nesta experiência bestial, eu contei, exatamente,  87 menções ao Demônio.  A partir do séc. IV,  o Cristianismo tornou-se a religião oficial do Império Romano, a religião cristã se propagou com uma velocidade extrema. Muitos santuários e templos pagãos foram destruídos, e em seus lugares são construídos igrejas cristãs. Durante sua tentativa de arrecadar novos fiéis e destruir religiões inimigas, a Igreja Romana distorceu, não apenas o significado de tais deuses, como suas imagens e qualidades, associando-os a figuras de seres horrendos e maléficos. Deste modo, o que era tido como símbolos sagrados e benéficos para outros povos passaram a ser vistos como símbolos maléficos para a cultura cristã, associados à imagem do Diabo. E esta crença cresceu, tomou forma e vida na cultura humana. O luteranismo adotou a imagem do demônio em meados do séc. VI e talvez tenha sido uma estratégia para poupar os seguidores de Martin Lutero da inquisição. O problema é que, apesar da visão do demônio ser deveras metafórica em outros segmentos, não faltou quem a deturpasse, tirasse e continuasse tirando proveito deste fenômeno cultural; a luta constante contra o tinhoso. Lutero não era idiota, tampouco safado. Arrisco-me a afirmar que Deus é menos importante que a figura do "Cão" nestas igrejas. O diabo é um inimigo a ser batido, Deus é por si só o bem, ao menos teoricamente. Sem ter com quem lutar e paz celestial, o ser humano não dá lucro.

      A pena de morte deveria existir sim por aqui, para crimes deste tipo, crimes contra a fé e apoiados na miséria e na ignorância. E esta ignorância, aos poucos, vai destruindo o planeta humano, extinguindo valores, sentimentos e GENTE.



2 comentários:

  1. Você consegue ter bom humor ao abordar um assunto serio e tenso como este. Eu ri e muito em alguns momentos. Formidável!

    Abraços

    Naná

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  2. Uma pancada bem dada na ignorância!

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