O País se aproxima de dois cenários possíveis, ambos ruins. Se Dilma for tirada do poder, manifestações ocuparão as ruas no dia seguinte. Novos pedidos de impeachment, dessa vez contra Temer, baterão às portas do Congresso Nacional. As mesmas pesquisas que atestam a repulsa quase unânime dos brasileiros por Dilma mostram também que as maiorias não querem o vice, Michel Temer, como substituto da titular.
O segundo cenário não é melhor. Se Dilma ficar, como vai ser a sua sobrevida no cargo? Lula será o “primeiro-ministro” e tomará conta do Planalto, promovendo a presidente ao posto de peça decorativa? A sociedade foi dividida por um muro, sobre o chão da Esplanada dos Ministérios, que a reparte em dois lados.
Na peça Antígona, de Sófocles, escrita há mais de dois milênios, o personagem Creonte, rei de Tebas, enuncia lições preciosas e justas, ainda que seja um usurpador despótico, como a de “jamais colocar o maior interesse do melhor amigo, do mais íntimo parente, acima da mais mesquinha necessidade do povo e da pátria” (na tradução de Millôr Fernandes).
Por acaso, domingo que vem é Primeiro de Maio. Pelo que me lembro, teria sido uma data histórica da classe operária, coisa que já não importa, naturalmente, por representar um conceito em desuso, fora de moda. Assim como o Natal dos nossos dias tem mais a ver com um passeio no shopping do que com uma oração na igreja, o Primeiro de Maio já não tem nada a ver com o que aconteceu em Chicago, em 1886.
Não que eu seja contra, vai ver que é isso mesmo, talvez não haja mais política possível fora dos domínios do imenso espetáculo de mal gosto em que se converteu o nosso mundo.