segunda-feira, 8 de junho de 2020

Triste Destino

Por Antonio Siqueira




FOTO: JOÃO TZANNO/UNSPLASH


















Infelizmente, a óbvia tentativa de manipulação dos dados sobre a pandemia faz parte de um esforço maior de falsificação nas mais diversas frentes e junto aos mais diversos aliados. Foi mais fácil tentar colar a ideia de que o número de mortes causadas pela covid-19 no Brasil estaria manipulado pelos governadores depois que fábricas de fake news disseminaram via redes sociais o boato de que caixões vazios estariam sendo enterrados em Manaus ou que médicos estariam classificando sistematicamente como vítimas de covid-19 pacientes que morreram por outras causas.

Além de negar a pandemia, o presidente Jair Bolsonaro quer esconder os balanços de mortos, contaminados e recuperados, achincalhando o Ministério da Saúde. Demitiu um ministro, expeliu outro, nomeou um general intendente como interino, descartou o isolamento, empurrou a cloroquina garganta abaixo de médicos e especialistas e agora isso: sonegar os números.

Pois vamos a eles: são mais de 35 mil mortos (35 mil!) e quase 650 mil contaminados (650 mil!), numa expansão macabra, fora de controle. O presidente dá de ombros para os mortos – “E daí?” – e os governadores relaxam atabalhoadamente o isolamento para abrir lojas e serviços na pior hora. Logo, vai piorar.

Por outro lado, destacamos o exemplo uruguaio. Por que não se divulgou mais a maneira tão eficiente como o Uruguai tem lutado contra o coronavírus? A verdade é que se trata de um pequeno país, de apenas três milhões e meio de habitantes, rodeado por vizinhos tão enormes quanto o Brasil e a Argentina. Mas esses dois gigantes teriam se saído muito melhor se, em vez de fazer o que fizeram para deter (ou incentivar, como seria melhor dito no caso brasileiro) a pandemia, tivessem seguido o exemplo uruguaio. Luis Lacalle Pou, o novo presidente do Uruguai, acabava de assumir o poder após derrotar a esquerdista Frente Ampla, que havia acumulado 15 anos de governo, com erros notáveis em política econômica, mas respeitando a liberdade de expressão e as eleições livres. Na terça-feira 13 de março, conheceram-se os primeiros casos confirmados de coronavírus no país

Enfrentando as pressões da oposição de esquerda, e inclusive de sua própria aliança entre o Partido Nacional (ou Branco) e o Partido Colorado, Lacalle Pou se negou a impor uma quarentena, como fizeram tantos países do mundo. Apelou à responsabilidade dos cidadãos e declarou que ninguém que quisesse às ruas ou continuar trabalhando seria impedido, multado ou detido, e que não haveria aumento de impostos porque as empresas privadas desempenhariam um papel central na recuperação econômica do país após a catástrofe. Somente seriam suspensas as aulas dos colégios e haveria fechamento temporário das fronteiras. No Uruguai em decorrência da praga são 23, os contagiados são 826 e os recuperados, 689. É difícil imaginar um balanço menos trágico. Deve-se este êxito ao povo uruguaio e a mais ninguém.

Senão bastasse a pandemia, temos o chavismo’ de Bolsonaro e o risco das milícias armadas no Brasil. Notícias falsas, negacionoismo, ignorância e crueldade. Por último, temos o presidente assumindo publicamente no vídeo da fatídica reunião ministerial que a conversa de armas para defesa da família e propriedades não passava de fachada, já que sua intenção de “escancarar a questão do armamento” é para que seus apoiadores possam pressionar (armados) todos que fazem críticas ao seu Governo. Tudo isso em cima de quase 36.000 cadáveres, sem máscara, sem anestesia, se ascepcia, coçando o nariz e apertando mãos ao sabor dos ventos. Triste destino, Brasil!


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