domingo, 4 de dezembro de 2011

acerca de futebol... *;)

Vai que é sua, papai!


Quando o irmão nasceu penduraram um par de chuteiras e uma camisa do Palmeiras na porta do quarto. A menina ficou preocupada. O Palmeiras era o time do coração do pai e isso só podia significar uma coisa: ela acabara de perder o trono para um gorducho feio, careca e desdentado. Até chaveiros com as cores do time foram distribuídos na maternidade. Enquanto, no berço, o gorducho arrotava e dormia o sono dos inocentes, um papai orgulhoso traçava planos para a primeira visita de ambos ao Parque Antártica. Que fossem felizes para sempre!, pensou a menina, com vontade de arrumar as malas.


A vida, assim como o futebol, revelou-se, nos anos seguintes, uma bela "caixinha de surpresas". Para decepção do pai, o bebê cresceu caído de amores por outro time e passava os dias cantando estridentemente: Clube Atlético Mineiro, galo forte, vingador!. Não restou, então, ao pai, outra saída senão conformar-se com a companhia da filha para assistir às partidas de futebol. A menina, sempre muito quietinha, sentava-se no sofá ao lado do pai e, de vez em quando, perguntava:


- Pai, o que é zaga? Tava impedido por quê, pai? Foi falta, pai? Pai, onde fica a grande área? E a pequena?


A maioria das perguntas, ela as fazia para merecer um tico de atenção que fosse daquele homem sério. Durante toda a vida sentou-se ao lado dele para, juntos, assistirem ao futebol e, durante toda a vida, repetiu as mesmas perguntas bobas. Nunca fez questão de saber se fulano estava na linha de impedimento no momento do gol, porque se o pai lhe dizia que não estava ela acreditava.


Trinta anos depois, a cena, como num filme, se repetia, só que desta vez com sabor de antecipada saudade. O pai estava morrendo e o time do coração nunca estivera tão mal colocado num campeonato brasileiro.


Ela falou baixinho:


- Ih, pai, este ano nosso time... Sei não.


Ele a olhou daquele jeito condescendente de quem diz "você continua não entendendo nada de futebol, mas eu te amo..."


Com um gesto de mão pediu que a menina desligasse a TV. A partida ainda não havia terminado, mas ele já estava na prorrogação, com o tempo esgotado e cansado de jogar.


Morreu no dia seguinte, desconhecendo se o time levaria, ou não, o título aquele ano. Não levou.


E a menina?


A menina quase morreu de dor, mas aprendeu com o tempo que, independente do lugar para onde tenha ido o companheirão, seu pai, como se diz no jargão futebolístico, já entrou marcando gol de placa. Grande jogador que havia sido nos campos da vida.


mariza lourenço
[imagem Ekaterina Nosenko]

3 comentários:

  1. Um barato esse texto, Mariza!!! Demais rsrsrs

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  2. Coisa boa de se ler. Crônica delicada: "- Ih, pai, este ano nosso time... Sei não." hihihi amei!

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  3. hehehe... e foi tudo verdade. pena que ele não tenha vivido o bastante pra me ensinar as regras. *:)

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