segunda-feira, 10 de março de 2014

A história que a escola abortou


     
       *Até hoje tudo depõe contra os portugueses no que concerne ao descobrimento e à colonização do Brasil, e não sem razão: eles represetaram muito mais retrocesso do que desenvolvimento. Mas este país poderia ser bem pior sem eles, e como revela o professor, historiador e biografo, Laurentino Gomes, autor da trilogia historiografica campeã de vendas, "1808", "1822" e "1889": "O Brasil, ao contrário do que se supõe e com todos os percauços dos séculos que passaram, é um país que até deu certo, poderia ser muito pior". E olhando por um prisma menos ácido, o veredicto dos lusitanos está longe de ser a condenação.



Por Antonio Siqueira - do Rio de Janeiro

@image:Edgar _Vasques



     










     



        Quando aqui chegaram, os portugueses constituíam a nação mais rica do mundo (ou seja, da Europa e parte da Ásia, que era o mundo conhecido na época), com grandes conhecimentos em navegação. Chegaram ao Brasil com muita coragem, pois o clima era bastante inóspito e os índios muito violentos, ainda na Idade da Pedra (nada do que escreveu o romântico Galleano no seu livro lacrimejante “As veias abertas da América Latina”, que li na juventude). Muitos eram flechados antes de conseguirem chegar ao litoral. Vieram homens corajosos e aventureiros, almejando descobrir novas rotas para a Índia e alcançando nossas terras. Tudo isso depois da queda do Império Romano do Oriente, quando os turcos otomanos tomaram conta do velho caminho…

       Atravessar o oceano Atlântico era obra de coragem máxima! E foram esses homens capazes de cálculos incríveis, mesmo com tecnologia rudimentar, os primeiros a aqui chegar. Havia necessidade de colonizar esta terra. Portugal não tinha uma população capaz de povoar nem 1 milésimo de um país com dimensões continentais. Aliás, nenhum país teria.




@image:Moa




         E começaram as negociações com os habitantes locais. Quem imagina que os portugueses aqui chegaram matando índios, com armas de fogo, desconhece por completo a escassez da pólvora naquela época e as armas rudimentares de que dispunham. Ao carregar uma arma, contra quem quer que fosse um índio minimamente habilidoso já teria enviado uma rajada de flechas com um veneninho na ponta (o curare). E os índios que aqui habitavam por gerações e migrações. Há pelo menos três milênios, de pacífico não tinham nada. Pesquisas recentes revelam que a Amazônia pode ter sido uma floresta plantada e criada por povoados primitivos que chegaram lá há milhares de anos atrás, criaram cidades flutuantes e destruíram tudo isso com guerras santas e expansionistas. Mas isso já é outra história.


Escambo

      Assim, obviamente, a lógica era a negociação. E isso os colocou ao lado dos índios, presenteando-os com espelhos, dentre outros bens. Aliás, só abrindo um parêntese: índio nunca foi idiota. Espelho era algo caríssimo e só os nobres possuíam na época, não é como hoje que compramos numa lojinha de 1, 99 um micro espelhinho. Bem, esses índios guerreavam entre si e faziam escravos. E vendiam-nos aos europeus que cá estavam. Portugal criou o sistema das capitanias hereditárias, oferecendo muitas terras, para estimular a vinda de portugueses. E logo as companhias dos jesuítas vieram e começaram a alfabetização de muitos índios, e outros já miscigenados, e condenaram a escravidão. Houve desconforto com a Igreja que julgava que “índio não tinha alma” e os tais jesuítas foram expulsos e blás.



@image:Kaiser


















Escravidão

      Depois, séculos se passaram e surgiu a necessidade de braços mais fortes para a exploração de minas e agricultura, então os negros passaram a ser os representantes dos “sem alma”. Vinham da África. Eram vendidos por lá pelas tribos rivais que escravizavam os perdedores das muitas batalhas e os vendiam aos europeus, índios e negros donos de terra. Pois é, isso ninguém nos contou na escola. Mas é fácil deduzir. A escravidão na época não tinha cunho moral. Um povo negro ou indígena escravizava aqueles que perdiam as batalhas.


     Como colonizar esta terra? Vamos enviar aqueles que desejam uma aventura em alto mar! Mas como? Na época julgava-se existir monstros apavorantes nos oceanos… Quem toparia essa aventura? Creio que muito poucos. O jeito foi enviar também quem não tinha escolha. E o tempo passou e a miscigenação se deu. No início do século XIX veio Dom João, fugindo de Napoleão, com toda a sua corte e muito dinheiro, já agora com uma Inglaterra forte, dona dos mares, o escoltando. Nem vou falar no grande terremoto de Lisboa…



Colonização

      Trouxeram suas riquezas, melhoraram nossa infraestrutura (precaríssima) para conseguirem aqui viver, e continuar a exploração, é claro: éramos colônia. Coisa que teria sido feita pelos franceses quando aqui estiveram e holandeses também, obviamente. Os portugueses fizeram muita coisa bacana por nós, criaram o Banco do Brasil, urbanizaram nosso Rio, museus, praças, jardim botânico… eles vieram para ficar. Mas Portugal necessitava deles por lá e os chamaram à razão. Marquês de Pombal foi grande para o povo de Lisboa, massacrado pelo terremoto, mas odiado por nós por motivos óbvios.

     Acho que devemos ter orgulho sim, de sermos essa população sem raça definida, miscigenada. Orgulho dos negros que nos ajudaram, mesmo que involuntariamente, dos índios, dos primeiros moradores de nossa terra – desterrados… E, posteriormente, orgulho dos japoneses, dos alemães, dos italianos, de todos que saíram de seus países em busca de um mundo melhor. Todos contribuíram com sua cultura e trabalho, enfim, agradeçamos a todos aqueles que habitam e habitaram o Brasil e que fazem parte do nosso DNA! Pois qualquer outro colonizador que viesse para cá, faria a mesma coisa. Vide o que a Inglaterra fez com a Índia; a Bélgica com o Congo; a França com a Indochina, etc... etc

     O próprio Maurício de Nassau, o primeiro aristocrata europeu a pisar em nossas terras, era uma exceção à regra. Tanto assim que logo a Holanda o chamou de volta, pois estava investindo demais nestas terras. E os que o substituíram foram piores que os portugueses, daí serem expulsos pelo próprio povo daqui.

     O problema não foi o povo que colonizou Pindorama, foram as más gestões e uma certa conivência com o erro! A institucionalização da picaretagem, da corrupção, o que de pior os dois primeiros reinados nos deixou de legado, o que contaminou a República de tal forma que mais de 300 anos não modificaram. Mas isso tem conserto. Basta manter a Democracia, a liberdade de expressão, punir os corruptos e investir numa educação de qualidade para que este povo saiba exigir os seus direitos e aprenda a votar com ideologia e acuidade moral. O que não podemos é fecharmos nossos olhos para a implantação de um regime totalitarista que quer nos fazer retroceder 100 anos, nos transformando num Cubão.




*Ilustrações dos cartunistas: Edcar Vasques, Moa e Kaiser
Extraídas do blog: Tintas China (artes gráficas às pampas)



3 comentários:

  1. E esse povo que fugiu da escola (se não fugisse também seria a mesma merda) prepara o lombo para uma ditadura de esquerda. Vejam só que coisa! Texto fantástico o seu. Todo país colonizado sofre, independente do colonizador. O problema é que tipo de povo reage...e como reage.

    Marcelo - CGRJ

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  2. Pedro Álvares Cabral, era um navegador sem muita expressão, tanto que no descobrimento do Brasil, sem muitos recursos, recorreu ao rei da Espanha na tentativa de novas aventuras no qual iria ocorrer o descobrimento de nossa terra. Conseguiu algumas naus para seu empreendimento porem, carente de recursos e tripulação recrutou para sua viagem pessoas disponíveis para tal evento.
    Casualmente descobriu nossa terra, pois em desvio de sua rota deparou com a nova descoberta.
    Na realidade não seria uma descoberta. Descobrir seria : “achar” “dar a conhecer”. A terra até então “descoberta” já era habitada por índios que viviam em comunidades muitos séculos antes de Cabral pisar em nossa terra.

    Porque não nos permitiram a invasão francesa ou talvez a invasão holandesa, se assim o fosse, seriamos uma grande nação.

    Achiles Holanda

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  3. Pois, é, falar mais o quê? Perfeito! A síntese do último parágrafo nos remete às lições que tivemos, e como fazer, para acertar o que vem errado de há muito.

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