segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A ética Vogoniana e o espírito da Burocracia


Por Silvia Schroeder
De Londrina



“Um POP é alguma coisa que não podemos ver, ou não vemos, ou nosso cérebro não nos deixa ver porque pensamos que é um problema de outra pessoa. É isso que POP quer dizer: Problema de Outra Pessoa. O cérebro simplesmente o apaga, como um ponto cego. Se você olhar diretamente para ele, não verá nada, a menos que saiba exatamente o que é” (O Guia dos Mochileiros da Galáxia)


       Uma das mentes mais brilhantes que pensou por essas bandas do sistema solar nos deu uma boa visão de burocratas por excelência. Se você, meu caro leitor, pensa que estou falando a respeito de Max Weber e os funcionários do DETRAN, está enganado. Eu falo de Douglas Noël Adams e os vogons.

      O Guia dos Mochileiros da Galáxia nos esclarece que os Vogons não chegam a ser malévolos, mas são “mal humorados, burocráticos, intrometidos e insensíveis. Seriam incapazes de levantar um dedo para salvarem suas próprias avós da terrível Besta Voraz de Traal sem antes receberem ordens expressas através de um formulário em três vias, enviá-lo, devolvê-lo, pedi-lo de volta, perdê-lo, encontrá-lo de novo, abrir um inquérito a respeito, perdê-lo de novo e finalmente deixá-lo três meses sob um monte de turfa, para depois reciclá-lo como papel para acender fogo”.
      Douglas Adams em sua infinita ironia genial personificou as piores características da burocracia nestes personagens alienígenas. Eles são capazes de complicar as operações mais simples, dificultar a resolução dos problemas mais bobos e se sentirem profundamente satisfeitos com isso. Muito parecido com o que acontece nesta rocha flutuante coberta de água que chamamos de Planeta Terra.
Obviamente, como estagiária na função administrativa em um órgão municipal, posso afirmar que nem todos os servidores públicos são burocratas malévolos prontos pra negar algum pedido, simplesmente para complicar a vida de alguém. Tampouco os funcionários da iniciativa privada que executam os atos burocráticos, são seres das venenosas profundezas do mar sem fim. Não, eles são apenas vítimas do sistema, assim como os usuários deste.

      Em seus estudos Max Weber desenvolveu o conceito de Burocracia, que consiste basicamente – e quando eu digo básico, é básico mesmo – na prévia definição do funcionamento de todas as rotinas de uma determinada instituição de forma racional e impessoal. Para Weber a burocracia era um negócio bacana que por conta da sua característica racional intrínseca ia gerar muitos benefícios. E pra todo mundo.

      Na prática a coisa não funciona bem assim. O que era pra ser o caminho se tornou o ponto de chegada, isto é, se a burocracia, a princípio, surgiu como um meio para se atingir uma finalidade, hoje em dia o que mais se vê é a burocracia sendo o fim – no sentido de finalidade e também especificando o estado em que se encontra a paciência de suas vítimas.
     Se a realidade é feita de contradições é por que ela funciona melhor assim. Toda tese precisa de sua antítese e a síntese não séra uma sociedade perfeita, mas algo “menos pior”. A burocracia precisa ser substituída por algo “menos pior”. E urgentemente.
      Para os desesperados de plantão, enquanto aguardam uma declaração, certidão ou qualquer uma dessas chatices, contemple a única coisa pior do que a burocracia: Poesia vogon.


"Ó fragúndio bugalhostro, tua micturição é para mim
Qual manchimucos num lúrgido do mastim
Frêmeo implochoro-o, ó meu perlíndromo exangue
Adrede me não apagianaste e crímidos dessartes?
Ter-te-ei rabirrotos, raio que o parte!"

3 comentários:

  1. eu só li esse livro por causa de você e do Eric, Silvinha! Perfeito o seu texto...Tudo a ver!
    "Se a realidade é feita de contradições é por que ela funciona melhor assim. "

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  2. hauahuah ... muito boa!

    DNA e suas definições geniais ...

    ótimo texto ...

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  3. HAHAHAHAHAHA
    ESTE TEXTO É EXCELENTE, HAHAHAHAHA!

    Cesar

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