sábado, 28 de dezembro de 2013

Os Reféns


Por Osvaldir Sodré da Silva do Rio de Janeiro

Os organizadores, pressionados pela opinião pública, dizem que os bilhões de gastos, não irão somente para os estádios, mas, para a infraestrutura e mobilidade urbana,  mas, o governo afirmar, que  não sairá um centavo dos cofres da União é de tamanha desfaçatez, que chega a ser irritante, mas, que passa desapercebida pela população leiga, e mesmo aos olhos e ouvidos dos que fingem aceitar, por usufruírem do que está aí.

Ora, se é o BNDES quem financia, com linhas de crédito a juros subsidiados, e tomados pelos  governos dos estados, quem paga, paga com dinheiro público, e mais, se do total estimado de R$ 28 bilhões, R$ 6,5 bilhões vieram do orçamento federal, e R$ 7,3 bilhões dos governos estaduais e municipais, há dinheiro público em jogo, pois, apenas R$ 5,6 bilhões são recursos privados.

No caso do Recopa, não somente os leigos, quiçá a maioria diria que é a Copa das Copas, e faz sentido, mas, é uma sigla,  criada em 2010, para nominar o Regime Especial de Tributação para Construção e Reforma de Estádios da Copa, cuja finalidade é desonerar as construtoras de impostos, e tarifas de importação, equipamentos e contratação de serviços, e com isto, os cofres públicos deixarão de arrecadar  mais de R$300 milhões, e  a FIFA, somente ela, ficará isenta de R$1 bilhão.

A se comparar os gastos da África do Sul, R$ 7,7 bilhões de reais; do Japão  R$ 10,1 bilhões, e da Alemanha  R$ 10,7 bilhões, quando sediaram as copas, o Brasil já ultrapassa a soma dos três.


Talvez por isto,  a opinião pública, se mobilizou harmonicamente, ao mesmo tempo, com tanta violência,  em passeatas, iniciadas com apelo para a redução dos R$0,20 das passagens, se fundiram, confundiram com as questões dos médicos, da saúde e da própria copa e dissiparam-se com a mais anárquica das anarquias dos “black blocs” tupiniquins.

Pode ser que voltem com a proximidade do evento, sendo certo que nada muda, se não mudarem as regras das eleições, dos votos, pois, que hoje, a pluralidade de partidos, mais que balcão de barganhas, mantém o status quo, e a indiferença dos políticos, fazendo o povo, refém de um grupo que usa a democracia, melhor invento político da humanidade, para silenciar  a maioria, em detrimento dos crimes da minoria, se perpetuam no poder, próprio dos regimes autoritários. Ditadura democrática?

Nunca se viu e denunciou tanto roubo, ao mesmo tempo que nunca se viu tanta corrupção, com o país em 72º dentre 177 países, no ranking dos mais corruptos, mesmo com o esforço de alguns membros do STF, difícil se livrar desta posição incômoda, e para isto, deva se libertar de dogmatismos ultrapassados, da manutenção da política econômica do engana bobo, em que projetam um PIB lá em cima, e uma infração lá embaixo no início do ano, invertendo-se ao final, restando dourar o PIBinho, minimizando-o com desculpas, sem eliminar vícios e corrigir erros, perde o passo da história, e a oportunidade de dar um salto de qualidade, enquanto a Europa e os EUA, revertem a situação da crise mundial que bateu mais lá que aqui.

Por tudo isto, os insatisfeitos gostariam de entender, por que há recursos para a Copa, e não para os aposentados, para os hospitais, para as creches, tema de nossa crônica Caminhos Tortuosos, em que as meninas mães, maioria dentre os 10 milhões de jovens, que  não estudam, nem trabalham, vivem das bolsas votos, não tendo onde deixar seus filhos.

Quais motivos, além de políticos, levou a escolha, por exemplo de Brasília e Manaus,  com capacidade para 71 mil pessoas, a um custo de R$ 1,2 bilhão, e  para 44 mil torcedores, a um custo de R$ 583 milhões, respectivamente, se ambos não têm público, sequer clubes de expressão, para mantê-los.

Se a conotação dada as obras foi de padrão FIFA,  não será o programa Mais Médicos, que salvará a situação da Saúde, onde  o caos chegou as classes que ainda suportam pagar planos de saúde, que hoje se assemelham ao padrão SUS, não por falta de médicos e sim, de políticas de financiamento para o Sistema Único de Saúde, que ainda não implodiu, pelo aporte de 40% que vem do setor privado.

Para passar estes dias de transição dos tempos, lendo a obra de Kalil Gibran Kalil, achei por bem incluir parte do texto, posto que se encaixa neste Brasil de hoje, talvez de sempre:


..."ai da nação que veste roupa que não teceu, e come pão que não segou..., ai da nação que só se rebela quando seu pescoço está entre a espada e o cepo..., ai da nação que recebe todo novo governante com trombetas, e dele se despede com apupos, para receber outro governante com trombetas..., ai da nação cujos sábios estão mudos pelos anos..., cujo estadista é uma raposa, e cujo filósofo é um prestidigitador, e cuja arte é a arte da maquilagem e da mímica".

5 comentários:

  1. Perfeito.
    Caiu como uma luva para este teatro de cretinos que assistimos todos os dias.
    E X C E L E N T E!

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  2. A questão dos médicos é a mais vexatória e é por onde esta bica enorme que despeja o nosso dinheiro, sofre o maior dos derrames atualmente. É dinheiro que não é mais nosso, financiando a ditadura dos irmãos castro. Isso apenas, já valeria a criação de um grupo terrorista. Canalhas!

    Marcelo - CG RJ

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  3. O que me atrai e encanta neste blog é a diversidade de ideias e de inteligências. Que em 2014 tenhamos mais dissso, mais do bom e do melhor.

    Feliz 2014

    Marcelo RJ

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  4. É amigo, a coisa está feia!

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