domingo, 22 de junho de 2014

Dez Anos sem Brizola

Por Antonio Siqueira - do Rio de Janeiro



Leonel de Moura Brizola
A ideia de educação como agente radical de transformação social, uma bandeira do brizolismo, ficou pelo caminho. Hoje, pensa-se em educação de uma forma técnica, também importante, mas nem perto do que foi com Leonel Brizola.

A educação sempre foi principal bandeira de Brizola, quando governador do Rio Grande do Sul, construiu mais de seis mil escolas, acabando com o analfabetismo no estado. No Rio de Janeiro, foram mais de 500 Cieps, que o povo batizou de Brizolões, o que, para muitos, foi motivo para seus sucessores deixarem o projeto de lado.

Outro sonho deste homem: fazer também a reforma agrária para acabar com a miséria no campo e com as favelas na cidade. Foi derrubado por uma burguesia ignorante que não entendeu sua proposta de capitalismo autônomo.

Apontado pelo desafetos como responsável pelo aumento da violência no Rio de Janeiro, a tese não encontra acolhida em muitos que estudam o tema. Até nessa polêmica questão Brizola, que prendeu todos os chefes do narcotráfico da época, esteve à frente do tempo.

Se hoje, ainda que timidamente, há um debate sobre os direitos de quem mora na favela, ele começou com Brizola, que foi o primeiro a defender para o favelado o mesmo tratamento dado para quem mora na Vieira Souto.

Andam tentando ressuscitar Brizola num ato de desespero politico, mas para para falar em Brizola, tem que ter compromisso com a educação. E nenhum deles tem.


Dos tesouros públicos

Nunca fui grande entusiasta de ver Brizola como governador ou presidente,  ele  manteve as finanças nos eixos, sempre com arrecadação eficiente. Foi assim no governo do Rio Grande do Sul. Nos governos dele, sempre havia dinheiro para investir em projetos sociais. Sou suspeito para falar, mas não teve nenhum outro governo brilhante no Rio Grande do Sul depois do dele. Já nos dois governos do Rio foi mais difícil, tinha oposição do governo federal. Mesmo assim, fez um plano de investimentos que poucos fizeram até hoje. A eficiência administrativa era muito boa. Praticamente não havia endividamento


Dos  terrenos políticos, politico-sociais e internacionais

Brizola  subestimou o poder dos Estados Unidos antes do golpe militar. Ele achava que o poder dos americanos era só nas armas. Não era. O poder estava também em Wall Street e em Hollywood. O primeiro comanda a engrenagem financeira, o outro comanda como o mundo pensa e se comporta. Pouco antes de morrer, conversando com ele na fazenda, seu filho, João Otávio Brizola perguntou-o se ele não tinha se dado conta disso. Mas ele não aceitava. Nunca compreendeu que era muito difícil fazer as reformas de base da maneira que queria. Estava claro que quem mandava eram os Estados Unidos. Daí vem um gaúcho querendo implantar reformas. Outro erro estratégico ocorreu quando Brizola voltou ao Brasil (em 1979, depois de um exílio de 15 anos). Poderia ter chegado à Presidência e feito parte das reformas que tanto queria se tivesse sido um pouco mais flexível.

As coisas iam acontecendo e ele, certo ou errado, farejava os caminhos, alguns exatos, outros não, mas todos coerentes.

O impacto daquele texto – minto, não do texto, mas de Brizola obrigar a Globo a ler uma mensagem sua – também não teve nada de planejado, mas resultou do inconformismo que ele, com seu exemplo, injetou em alguns de seus companheiros.

Um pouco antes de sua segunda eleição, Brizola passou a ser atacado, sistematicamente, com artigos em O Globo, escritos – ou apenas assinados – por um certo Alcides Fonseca, um ex-deputado estadual eleito do nada pelo PDT e que se bandeou para a oposição a Brizola e, daí, para a poeira da história.
Por orientação do querido amigo Nilo Batista, Brizola passou a pedir, um por um, direito de resposta em O Globo. E, ao pedir, tinha-se já de oferecer o texto, e a tarefa me cabia, porque os anos e anos escrevendo com ele os “tijolaços”  me fizeram absorver um pouco do estilo e da alma inconfundíveis.

Dr. Nilo começou a vencer as causas, alguns artigos foram publicados e o “Fonsequinha” , como era chamado,  foi despachado do jornal.

Já no Governo, em 1992, Brizola dá uma entrevista, dizendo que por toda a sabotagem que a Globo fizera à Passarela do Samba, o prefeito da cidade, Marcello Alencar deveria negar à emissora a exclusividade da transmissão do Carnaval.

Foi o que bastou para que o jornal O Globo publicasse um editorial violentíssimo contra Brizola – o título era ”Para Entender a Fúria de Brizola”, acusando-o  de senilidade, “declínio da saúde mental”, e por suas relações, sempre institucionais, com o Presidente da República, Fernando Collor.]

À noite, o Jornal Nacional reproduziu, na voz de Moreira, o texto insultuoso.
Naquela noite, Brizola conversou com dois advogados: Arthur Lavigne e Carlos Roberto, Siqueira Castro, seu chefe da Casa Civil no governo estadual.

Um homem que era tão grande que  estar à sua sombra foi também – e é para sempre –  estar sob sua luz.





‘Todos sabem que eu, Leonel Brizola, só posso ocupar espaço na Globo quando amparado pela Justiça. Aqui citam o meu nome para ser intrigado, desmerecido e achincalhado perante o povo brasileiro.
Quinta-feira, neste mesmo Jornal Nacional, a pretexto de citar editorial de ‘O Globo’, fui acusado na minha honra e, pior, apontado como alguém de mente senil.
Ora, tenho 70 anos, 16 a menos que o meu difamador Roberto Marinho, que tem 86 anos. Se é esse o conceito que tem sobre os homens de cabelos brancos, que o use para si.
Não reconheço à Globo autoridade em matéria de liberdade de imprensa, e basta para isso olhar a sua longa e cordial convivência com os regimes autoritários e com a ditadura de 20 anos, que dominou o nosso país.
Todos sabem que critico há muito tempo a TV Globo, seu poder imperial e suas manipulações. Mas a ira da Globo, que se manifestou na quinta-feira, não tem nenhuma relação com posições éticas ou de princípios. É apenas o temor de perder o negócio bilionário, que para ela representa a transmissão do Carnaval.
Dinheiro, acima de tudo.
Em 83, quando construí a passarela, a Globo sabotou, boicotou, não quis transmitir e tentou inviabilizar de todas as formas o ponto alto do Carnaval carioca. Também aí não tem autoridade moral para questionar. E mais, reagi contra a Globo em defesa do Estado do Rio de Janeiro que por duas vezes, contra a vontade da Globo, elegeu-me como seu representante maior.
E isso é que não perdoarão nunca.
Até mesmo a pesquisa mostrada na quinta-feira revela como tudo na Globo é tendencioso e manipulado. Ninguém questiona o direito da Globo mostrar os problemas da cidade. Seria antes um dever para qualquer órgão de imprensa, dever que a Globo jamais cumpriu quando se encontravam no Palácio Guanabara governantes de sua predileção.
Quando ela diz que denuncia os maus administradores deveria dizer, sim, que ataca e tenta desmoralizar os homens públicos que não se vergam diante do seu poder.
Se eu tivesse as pretensões eleitoreiras, de que tentam me acusar, não estaria aqui lutando contra um gigante como a Rede Globo.
Faço-o porque não cheguei aos 70 anos de idade para ser um acomodado.
Quando me insulta por nossas relações de cooperação administrativa com o governo federal, a Globo remorde-se de inveja e rancor e só vê nisso bajulação e servilismo. É compreensível: quem sempre viveu de concessões e favores do Poder Público não é capaz de ver nos outros senão os vícios que carrega em si mesma.
Que o povo brasileiro faça o seu julgamento e na sua consciência lúcida e honrada separe os que são dignos e coerentes daqueles que sempre foram servis, gananciosos e interesseiros.’

3 comentários:

  1. BRIZOLA FOI GIGANTES, MERECE PALAVRAS GIGANTES EM CAIXA ALTA!
    Que seus ideais perdurem.

    Eloy

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  2. Perdemos a oportunidade de um Brasil melhor quando morreu Brizola. Faz e fará muita falta. Reconhecer seus méritos é significado de justiça. Merecida uma homenagem ao homem público e ao cidadão.
    Como todo aquele que tem posições firmes e definitivas, Brizola é amado e odiado. Pena que as últimas gerações pouco aproveitaram de sua energia e história. As próximas, talvez menos ainda.
    Cabe, aos homens de bem, lembrá-lo e transmitir o que de melhor deixou a todos nós e as próximas gerações: amor à escola/educação e um profundo e verdadeiro senso de nacionalismo. Onde estiver, receba os sentimentos de gratidão e de saudade.
    E que sua luz continue a nos iluminar.

    Bela materia

    Armando Anntonio Arabella

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  3. O “imortal’ direito de resposta do Brizola na Globo ! …http://www.youtube.com/watch?v=3UlsZcWwpRA&feature=player_detailpage

    Virgílio LUZ - Jacobina - Bahia

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